Horário de pico, ônibus lotado, sentido rodoviária. Um dia comum como tantos outros, não fosse um acontecimento já tão freqüente, um atropelamento. Talvez a freqüência tenha motivado tais reações que narrarei adiante.
Estava lá estendido no chão, jazia moribundo, o corpo, um homem qualquer. Pai, talvez. Marido, quem sabe. Um filho de alguém, com certeza.
O corpo, agora sem vida, foi atropelado. Especula-se que tentou sem sucesso atravessar uma avenida, que àquele horário nem o mais rápido dos velocistas conseguiria. O busão em marcha lenta encarava o engarrafamento. Ambulâncias, carros de policia e lá estava o corpo estendido no chão. Já era tarde, morreu. Lentamente, o busão como que num cortejo fúnebre emparelha com o defunto. Estico o pescoço para melhor visualiza-lo. O senhor bigodudo ao lado num misto de sinceridade e desprezo, diz :
- Bateu as botas.
Assim, simples como se a única certeza que temos nessa vida, que é a de que vamos morrer um dia se, resumisse ao ato banal de um bater de botas. A senhora gorda mais a frente olha de relance e diz que tem medo de defunto, vira o rosto, faz o sinal da cruz, beija as mãos e as ergue aos céus. O adolescente espinhento resmunga:
- Esse ai já era, mano!
- É mesmo! - repete outro.
E a marcha fúnebre segue seu caminho, o corpo ficou para traz. Agora as conversas seguem seu rumo banal, o medo, a indiferença, a curiosidade e a troça dão lugar à rodada do futebol, ao capitulo da novela e àquela gostosona do reality. A vida segue, o corpo fica, lá, estirado no chão, afinal de contas somos humanos, demasiado humanos, assim na vida como na morte.
Nessa vida de repetições, até a morte, fato fundamental de nossa vida, é tratada com um sustinho momentâneo e muito tédio...
ResponderExcluirInfelizmente viver esta se tornando algo banal,uma vida que se perde de forma violenta e absurda é só mais um acontecimento rotineiro, as pessoas se recolhem às suas vidinhas pautadas pela moda televisiva e se abstraem da realidade!!
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