quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CRÔNICAS DO DIA A DIA

                                                             UM CIDADÃO


  Alheio ao vai e vem de veículos que rasgam as pistas do eixinho w e do eixão, lá está um cidadão. Seu teto é a copa de uma árvore e seus poucos bens podem ser acomodados dentro de uma caixa de papelão. O cidadão, ao contrário de muitos outros moradores de rua, tira seu sustento do trabalho, vigilância de carros na quadra próxima.
 O cidadão, como muitos tantos cidadãos deste país, acorda e levanta cedo e logo parte para a labuta. Jornada puxada, de 7:00hs á 17:00hs, assoviando e chamando atenção de motoristas. O mesmo organiza o estacionamento, uma vaga aqui outra acolá. O rendimento é parco, como também é parco o rendimento de muitos outros cidadãos país afora. Vinte, trinta, quarenta reais, pouco, mas o suficiente para o almoço e quem sabe um lanche vespertino.
  O cidadão não pode se dar ao luxo de reclamar, o que vem é lucro, barriga cheia é para poucos na sua condição. Já é noite e o cidadão depois de um dia cansativo, prepara seu leito para mais uma noite, o sono dos justos o aguarda, um papelão e uma colcha velha, a frondosa copa de seu abrigo, um imenso ipê rosa não impede que as estrelas lhe venham fazer companhia até o adormecer. O cidadão agora dorme, alheio ao barulho dos carros, caros e velozes, que rasgam as pistas dos eixos. E as pessoas que conduzem os carros, caros e velozes, seguem alheias ao cidadão que dorme sob a copa de uma arvore. Seguem suas vidas e se queixam que é difícil viver em Brasília com seus "parcos" salários de servidores públicos: 3000, 4000 ou 10000 ainda lhes é pouco. E o cidadão apenas dorme, sequer jantou. O cidadão apenas dorme. Mais um dia de labuta se avizinha.

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